Ele que já havia esperado demasiadamente pelas reparações dos desastres da convivência ou da quietude indevida daqueles dois, obrigou-se a partir sem saudades, sem adeuses prolongados, como se a única coisa que estivesse à mercê da distância fosse uns poucos dias sob o mesmo teto. Não era só isso, entretanto. Não pôde deixar de lado a estranha sensação de desamparo que se instalava a cada passo para além do portão, avante na calçada da rua estreita. Ainda de cabeça baixa, lutando para não olhar para trás, chorou um choro difuso e comprometido com um passado recente de impossibilidades, de desalento, de desengano. Um choro da cor do céu de janeiro. Quando o avião decolou e ele esteve enfim sozinho, descascou com cuidado aquelas sensações dilacerantes e tentou dormir o caminho todo. Não foi possível. Chegando em seu destino, a primeira coisa que fez foi ligar e encontrou duas vozes destruídas cuspindo palavras frouxas e sem sentido. Disse sem muito pensar que o vôo tinha sido bom e que assim que estivesse instalado, voltaria a ligar. Ninguém disse até logo, ou qualquer outra coisa para além de trivialidades. Ao desligar, caminhou resoluto para fora do aeroporto, arrumando na bagagem de mão um profundo sentimento de ardor, uma espécie de alegria ensimesmada e deslocada do tom verde de suas esperanças. Parou por um instante na calçada da rua em frente cheirando o ar de um outro mundo e pensou que afinal, não tinha mais nada que fazer em relação a eles. Descobriria depois que esse haveria de ser o seu maior engano. J.M.N
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