sábado, 28 de novembro de 2009

Cicatrizes

Eram três a contar do lado direito de tua barriga. Nem apareciam muito, mas encucaste com elas. Querias apagar as tais marcas para sempre. Talvez esquecer um sofrimento, talvez deter o tempo que se esconde em tua pele. Não entendia essa tua pequena obsessão. Como não entendia tantas coisas a teu respeito. E naqueles dias de chuva e solidão deixei de compreender a mim mesmo. Deixei de me perdoar, de me redimir por não saber, por não admitir que era tanto e tão profundo que me assustava. Era comum, à hora de irmos para cama, reclamares. Era óbvio que eu sempre tinha uma desculpa. E seguíamos o sono até Antares e além, devorando os céus de março, suas águas a lavar nossas almas reencontradas. Morreste um pouco naquele dia. Morri outras tantas vezes diante das impossibilidades. Hoje contei sobre o óleo de massagens e as inconstâncias. Ri imenso de nossas piadas. Se me pudesses olhar por dentro verias meu coração entrecortado, com quelóides e pontos e poemas condizentes com esta minha condição cardisplicente. Um bater que tem o ritmo que me emprestaste, uma troca sanguínea que é apenas enfeite e em volta de tudo o meu corpo, minha biologia a tratar-me como se ainda fosse possível lutar em outra batalha.J.M.N

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