sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Sobre tudo o que sei

Para as personagens que me encantam e aterrorizam.
Que são as mesmas, diga-se.

O que sei, sei aos poucos e muito adiante. Faz sentido de eu ter pouca pensa agora. Senão a vida se descumpria feito roupa velha desfeita de puída. Tenho tato para pouca coisa, entrementes. Sinto apenas em três profundidades: estranho, imenso e ela. Sou muito pouco para caber nas raias de eternidade. Quando sair dessa, não penso em voltar que o trabalho é dobrado. Eis que me benzo desde os cinco para ter mais escolha e prudência e, desde os cinco, isso não me adianta. Por esta razão eu tenho dias de defunto e outros e viver multiplicado. Tenho árvores e cardumes, os bens naturais, em minha feita. Sou apontado pelos sãos, na rua. Acho que a noite vai ser daquelas. O que sei de mim é muito menos do que eu queria ou poderia saber. Sei das coisas, entremeado. Recorrente em mim é este desabrigo das estradas, o ermo solto no curral do mundo. Meu berro seco é de saudade. Só noite me sabe inteira. Chutei estrelas na boca do dia e esta ruindade desencantou para sempre a minha soleira. O sol que entra escalda e ilumina, não deveria. O que sei, sei muito menos do que sinto e o que sinto tem apenas a profundidade dela. J.M.N

Um comentário:

Anônimo disse...

"Sino em três profundidade:estranho,imenso e ela"
És incrível ao definir oque te vai por dentro,tuas palavras são magníficas!

Aos que amam ofereço.

Soneto do amor total
Amo-te tanto, meu amor... não cante
O humano coração com mais verdade...
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade

Amo-te afim, de um calmo amor prestante,
E te amo além, presente na saudade.
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.

Amo-te como um bicho, simplesmente,
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.

E de te amar assim muito e amiúde,
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.

V. de Moraes - Rio de Janeiro, 1951


Helem.