domingo, 29 de novembro de 2009

À sua engenharia

Rompe-se em mim o caminho fadado. Altera-se a cartografia de minha descoberta e eu nunca chego onde preciso. Ando em círculos em minhas aparências, perdido no jogo inadequado dos espelhos, onde não me encontro jamais, onde sequer sou objeto. Eu não sou um nome e você não é ninguém. Minha vontade é que lhe inseriu no programa feito para eu existir. Você é minha nudez delatada, remontada em minhas vergonhas mais infantis. Em tudo o que me foi vetado, enquanto aqueles que me deveriam cuidar interessavam-se mais em não permitir ver repetido em mim o furor da aventura, a náusea da descoberta das paixões. A chama intensa dessa vertigem meio memorial, meio improvisada é que me atiça agora – forno de fundição. De um lado minha consciência extravasa em palavras perigosas a minha falta sua, minha recente desgraça. Do outro lado, acordado feito um leão feroz, meu desejo corre atrás das semelhanças com uma morte pretendida, num segundo onde ressurreição e glória se encontram em meio a sua carne lisa. Estou neste momento arrebentando meus pontos, minha cirurgia reabre e me expõe as vísceras mais uma vez. Gosto de ser assim, vitorioso das coisas que me dilaceram, pois que é nessa freqüência e apenas nessa, que acontecem minhas vidas sucessivas, mais das quais ofereço a esta lembrança – abrigo ou desterro. Eu sou o que você me faz ser. J.M.N

3 comentários:

Unknown disse...

"Eu sou o que você me faz ser." esse é o tipo de entrega que nem todos os homens são capazes de fazer, de declarar.

Lindo.

Melissa

Anônimo disse...

Resta saber se não passam de declarações...

Bjs.

José Mattos disse...

"Só reconheço no outro aquilo que reconheço em mim", não é mesmo?

Antes de se ter fé no outro, há que se ter fé na gente.

Abs,

J.Mattos