domingo, 15 de novembro de 2009

Ocultar-se (?)

Às vezes tenho ganas de desaparecer. Caminhar sob a longa luz de meu solstício e reincidir nas carreiras, na neve solúvel dos artificiais sentidos. Apenas nostalgia, ledo engano. Impressiona-me que às vezes o mundo me caiba numa única sentença e quando ela nasce é como se eu me cumprisse, como se meu ser esgarçasse. Como se todos os meus enganos e imprecisos escapassem do meu dentro. Uma porção de gaiolas abertas repentinamente. Outras vezes é como se tudo isso escapasse e o silêncio de minhas páginas atinge clímaxes como em obras barrocas complicadíssimas. Em certos dias há um escárnio de tudo, embutido no trabalho à pena. Noutras uma vontade de nada ser. De nada trocar. É como se olhasse a porta aberta de um céu qualquer. E como no verso de toda a porta celeste, o que se encontra por de trás é o infinito. Uma vastidão em que não caibo. Nenhum compromisso à vista, nenhuma razão – enferma ou sã. Sei que a poucos importam essas linhas. A mim importam menos. Eu as escrevo por necessidade. Como um ar que condensa em linhas. E em negra tintura concedo-me um perdão discreto. Por não saber de tantas coisas e por não ter com quem dividir outras tantas que inventei e que nesse trabalho íntimo de revelar-me no espelho da incompletude, nascem, em chamadas palavras e dizem, em sabido desespero. J.M.N

3 comentários:

Anônimo disse...

Há quem admire tuas linhas e um mundo de pessoas para dividires teus escritos.Por isto continue!A construção do saber é um caminho e o primeiro passo você já deu não é?Sucesso!



Abraço.

José Mattos disse...

Tamanha propriedade não deveria para ficar anônima...
De qualquer forma, agradeço a força.

J.Mattos

Anônimo disse...

De loucos, aflitos e abandonados, todos nós temos um pouco...
Sensacionais as tuas palavras de ontem... muito atuais para mim, diga-se.

Abs,

Flávio