quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Aconteceu

Aconteceu quando menos se esperava. Quando a razão de dormir era um Rivotril ou um gole furioso de vodka. Aconteceu distante das paragens da certeza, da ilusão do tato, da seqüência de músicas inventadas para embalar os compromissos ainda não firmados. Aconteceu diferente do que a história ensina, muito além das páginas oficiais e dos diários de bordo. Aconteceu num istmo sem península, uma impossibilidade geográfica. Aconteceu quando a tarde acabava e se chegava cansado de outros pontos da cidade a devanear se aconteceria o encontro ou se os braços achariam apenas o vazio das conversas de trabalho. Aconteceu na medida em que se desfaziam as propriedades do calor próprio da terra deles, além, muito além da linha imaginária das defesas para uma possível guerra. E veio sem estratégia, ensimesmado, invadindo todas as horas do dia, todas as frações de interesse, todos os sorrisos infames. Aconteceu com tamanha imprudência e desconsolo que toda a realidade derivou fractais. Qual estado de suspensão e abalo. Aconteceu sem sequer ter acontecido o tempo, esse mesmo que traz as linhas que se fazem agora. J.M.N

Um comentário:

Anônimo disse...

Este texto me lembrou a música da Adriana Calcanhoto... Aconteceu, do CD fábrica do poema...

Muito legal por sinal para acompanhar este texto.

"aconteceu sem que houvesse
nenhum drama
só o tempo fez a cama
como em todo grande amor."

Bjs,

MCA