Convém o teu sorriso não alumiar nada. Convém sim. Inclusive esse teu boa tarde sem um convite implícito. Esse teu rebolado sem endereço certo. Esse teu olhar sem fome ou desatinos. Convém essa falta de promessa, de planejamentos na boca da noite, de desafios para que eu descobrisse a nova tonalidade do teu cabelo ou o lugar da tua tatuagem. Esse quizz que eu adorava, porque sabia de antemão todas as respostas e onde eu era ao mesmo tempo o único competidor e o maior prêmio. Sei que não brigamos. Que pena. Teríamos mais uma reconciliação sem desculpas ou explicações, só a urgência de dois corpos que se despem das roupas e da luz da tarde, como se aquele fosse o último gesto dos tempos. Ainda te acho tão linda quanto no dia em que, por descuido, nos beijamos no meio do expediente, criando uma janela de sonhos na parede caiada das horas de trabalho. Não foram almas que elevaram num sentimento único e tão nobre que o sol desabrochou num sorriso. Não foi isso. Também não foram duas histórias que enlaçaram e confundiram a ponto de não saberem o fim de um e começo do outro. Nada disso. Fomos humanos, deveras. Fomos saliva azeitando pescoços e nucas. Fomos suores como regalo de tantas fugas, de tanto fogo. Fomos mãos que se esgueiraram por debaixo de saias quando ninguém tava vendo. Fomos o ocaso de nós mesmos. Depois disso, não há mais palavras nem luz. Depois disso, só essa indiferença entorpecedora de quem chegou aos píncaros da própria paixão. WDC
Um comentário:
Ser humano desta feita é estar vivo e se permitir aproveitar o inesperado da vida!!
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