domingo, 3 de abril de 2011

U2 - uma crônica

Eu os quis mortos logo depois de terem lançado Achtung Baby, em 1991. Quis que aquele ano incrível acabasse que nem a letra de Even Better Than the Real Thing. Quis que as desgraças que cultivava à época fossem todas embaladas ao som de Running to Stand Still, com direito a uma única saída desse mundo, como na música. Desejei entre tantas coisas que aqueles caras que serviram de trilhos musicais para a geração do meu irmão mais velho, ficassem eternos entre meus amores de corredor, em minha vontade de ir embora do Brasil, em minha necessidade cada vez mais emergente de andar entre certos limites.

E olha só, isso aconteceu! E continuará acontecendo, porque depois do que vi e ouvi, cinquentões, Larry, Bono, Adam e The Edge, reinventam o espetáculo de rock, tornando-o, de fato, um evento global, com declarações de amor à paz, à liberdade e à vida (que me ha dado tanto).

Mais do que um espetáculo o show do U2 em Buenos Aires teve, para mim, um quê de renovação, de reencontro com utopias e desejos, de urgência em fazer desta passagem por cá, uma coisa que tenha valido à pena. Lembrei do Ferreira Gullar descrevendo Vinicius de Moraes como um cara que elevava a vida, que fazia dela uma elegia permanente ao amor, e completo: é assim que deve ser essa aventura errante. De preferência escutando Sunday Blood Sunday, Ultraviolet, One e tantas outras canções magníficas do quarteto de Dublin.

O estádio de La Plata, a setenta quilômetros de Buenos Aires, não foi suficiente para comportar o que estava à solta, naquela maravilhosa noite de 02 de abril de 2011 (data histórica, para mim). A cidade cercada desde sua entrada, estava completamente imersa na atmosfera do concerto e eu a esperar um surto a qualquer momento, pois minhas cercas estavam abertas por quatro dias. Nada menos do que eu esperava aconteceu e veio com a força triplicada por estar ao lado do cara que me apresentou o U2 e fez força para que eu viesse com ele – meu grande amigo Joel Monteiro.

Tenho direito a ser piegas! Que não tem?

Quando Bono chamou uma pessoa da platéia e pediu ajuda para ler os primeiros versos de Gracias a la Vida, de Violeta Parra, compositora Argentina que nos brindou com tantas música belas, tal como Volver a Los 17, declarou que aquela era uma das músicas preferidas do grupo.

Encenações à parte, ver 40.000 pessoas caladas escutando os versos... Gracias a la vida que me ha dado tanto/ me ha dado la risa y me ha dado el llanto/ así yo distingo dicha de quebranto los dos materiales que forman mi canto/ y el canto de ustedes que es el mismo canto/ y el canto de todos que es mi propio canto, não passou em branco por meus olhos e, quanto cantaram Where The Streets Have No Name, nome do meu primeiro conto pueril, pensei que, afinal, estava ali para chorar e cantar, pensar naqueles que me faltam tanto e naqueles que estão ao meu lado.

Tive a convicção de que o espetáculo do U2 é uma declaração de amor à vida e pronto!

Fui ao show do U2 esperando sentir ao extremo e senti. Fui ao show esperando me lembrar de quem eu fui e de quem quero ser. Pensar nos sonhos e cantar. Fui ao show querendo assistir a um ótimo show de rock e o que vi foi uma vida passando diante de meus olhos – a minha. Fui ao show porque achava que devia isso a mim, ao meu passado. E eu tinha razão. Com toda a liberdade sentida, finalizo...

"I have kissed honey lips
Felt the healing in her fingertips
It burned like a fire
This burning desire

I have spoke with the tongue of angels
I have held the hand of a devil
It was warm in the night
I was cold as a stone

But I still haven't found what I'm looking for."


J.Mattos

8 comentários:

Anônimo disse...

Que inveja..

Sara

Isoldinha disse...

Espero que no dia 13/04, em Sampa, a emoção seja tanta e tamanha que eu seja remetida ao passado e ao futuro num mesmo instante. Lindas tuas palavras! Beijos de ontem e de sempre.

Anônimo disse...

Sei o quanto deves estar feliz com o show. Mais um sonho relizado. Esse e o meu garoto.

Beijos mil,

Tereza

Anônimo disse...

A tua habilidade com as palavras me encanta! Eu consegui ver o que você viveu.
Estou me cortando com uma faca de serrinha, só de inveja... Inveja boa, se é que existe!
Um grande beijo.
Luana Chaves

Anônimo disse...

Que maravilha pegar um show de rock e fqlar sobre coisas profundas como fizeste. Amei o texto.

Andrea

Adelaíde Ferreira de disse...

Ô, homi... Caba com nóis assim... :_ )

Mais que um relato, um retrospecto e um por vir!! TOdos desfiados com tua habilidade ímpar com as palavras, que correm por entre as tecals como as lágrimas de contentamento e encantamento no meu rosto agora!! Saber-te humano, com idas e vindas e por elas ou talvez, a despeito, continuar crendo num amanhã de "mais e melhor" como também tenho pensado e dito a mim mesma, nesses últimos tempos... Te ler, partilhar-te é pdoer me olhar um tanto tb. Obrigada!! No dia de hj muito de bom que tive foi propiciado por ti, inclusive as lágrimas!:_ )
Beijos mais carinhosos

Anônimo disse...

Cara ,

Só agora li a crônica. Fico imaginando tua cara vendo o U2. Sonho de infância, posso dizer.

Maravilho amigo.

Arthur Maldone

Anônimo disse...

Grande Netão!
Fico contente em ter participado desta jornada ao seu lado! Momentos de tensão, nervosismo e finalmente alívio total! Valeu muito! Aliás, "tudo vale a pena quando a alma não é pequena"!!!
Abração.
Puga