quinta-feira, 21 de abril de 2011

Palavras de ontem indica…

Um Documentário:

lingua, vidas em português

Língua, Vidas em português

Ela que liga cristãos e muçulmanos, ela que irmana Martinho da Vila e Madredeus e que abraça Mia Couto e Saramago. A Língua portuguesa é a protagonista desse documentário de Victor Lopes. Por entre a malha tecida entre Brasil, Portugal, Índia, Moçambique e Japão divisamos com espanto o Português entrincheirado nas escolas; o português se reinventando na pobreza brasileira, o português resgatando sua nobreza na palavra de Saramago, Mia Couto e João Ubaldo Ribeiro; o português que chora de saudade na música do Madredeus, mas que tem motivos de se alegrar no samba de Martinho da Vila. Além desses ilustres, o documentário mostra o português na vida e na alma de anônimos nos quatro continentes onde está presente. Depois de assisti-lo a solidão parece que de diminui ao sabermo-nos herdeiros de uma tradição tão bela.

Um Filme:

Poster_Em um Mundo Melhor (3)

Em um mundo melhor (Hævnen, 2010)

O vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro desse ano retrata os impasses éticos vividos pelo médico sem fronteiras Anton. Ele trabalha num campo de refugiados em algum país miserável na África. Lá opera mulheres mutiladas em uma brincadeira perversa do chefão de um dos bandos em guerra. Ao mesmo tempo, na Dinamarca, seu filho Elias sofre com o Bully e, sob a influência do novo amigo Christian (um garoto absurdamente competente chamado William Jøhnk Nielsen), começa a tramar planos de vingança. Em um mundo melhor as pequenas violências seriam evitadas, pois são as sementes das grandes guerras. Mas a diretora Susanne Bier dispensa as lições de paz e de políticas corretas, resolvendo mostrar as dificuldades de se viver essa utopia num mundo que pede que os vencedores sejam assim reconhecidos pelos vencidos. Há de se pensar em Clarice Lispector: “É preciso não esquecer e respeitar a violência que temos. As pequenas violências salvam-nos das grandes.”

Um álbum:

folder

Violins – O direito de ser nada

Violins vem de Goiânia e desde 2001 vem trazendo uma lufada de ar puro ao rock brasileiro, tão dependente do passado e tão cego para o futuro. As melodia desse O Direito de ser nada são arrebatadoras, diversificadas, pulsantes e sobretudo bem executadas. As letras mostram uma eloquência sem exageros – outro fator raro no atual rock brasileiro tão preso ao imediatismo e à necessidade de parecer fácil, extremamente fácil. O melhor de tudo é que a banda sempre disponibiliza os álbuns por algum tempo em seu site oficial. Nesse momento dá pra baixar, sem culpas, O direito de ser nada em: http://www.violins.com.br/

Um livro:

tempo e o cao

O tempo e o cão: a atualidade das depressões – Maria Rita Khel

A psicanalista que já foi colunista de Veja, já foi demitida do Estadão depois de afirmar seu posicionamento político nas últimas eleições e que ganhou o prêmio Jabuti por este O Mundo e Cão, faz mais uma vez uma análise sagaz e ampla de um tema caro à teoria criada por Freud. Desta vez, o objeto de seu estudo é a depressão, tema sobre o qual Freud nunca se referiu, mas que guarda semelhanças teóricas inquestionáveis com o conceito de melancolia. Khel faz uma rápido e ilustrativo trajeto pela história da melancolia, detendo-se sobretudo no estudo que Walter Benjamim faz da obra de Charles Baudelaire. Resgate necessário para compreendermos sua tese: a de que a depressão é a atualização do mal estar do sujeito diante das demandas de uma cultura que pede incessantemente que nos inscrevamos na lógica do consumo, do espetáculo e da velocidade. Leitura obrigatória em tempos sombrios. WDC

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