sexta-feira, 1 de abril de 2011

Cartas a ninguém (01.04.2011 – 21:13h)

Meu amor,

Insistias que eu deixasse um testemunho do que éramos. Impelido por estas ruas em que te procuro agora, tentarei deixar algo melhor que simplesmente idéias e dizeres sobre o que fomos, sobre como fomos, posto que é impossível a mim, por agora, deixar de pensar que somos, mesmo que numa dimensão imaginativa ou além do universo das coisas tangíveis.

Aconteces em mim de manhã à noite. Entre tantos compromissos com a civilidade e com a sanidade química da qual começo a ter ódio. Sei que existes, pois ocorres em todos os meus passos, encharcas todas as paredes que me detêm ou inspiram a vontade de sair. Possuído por esta história libertadora e intensa que te fiz escrever comigo.

Não, talvez não tenha sido assim. Enquanto andava por esses dias, pensei onde estiveste por esta cidade descoberta em teus sonhos. Advinda inteiramente de tua vontade por conhecer tuas cercanias. Estes bons ares que incitam a conversa com um passado que admiro e me inspira como o cheiro das fotografias que deixaste para trás.

Tudo aqui era para ser teu. Sem mais possibilidade de presentear-te ao chegar, te ofereço meus passos, a mínima história que desenhei nesse chão que desejei por ti, através de teus olhos aqui encantados e renascidos. Tudo aqui deveria sair de minhas horas, direto para os teus ouvidos. Quiçá, essas sonoridades de agora sejam nossas, e apenas nossas, de fato.

Gosto de pensar assim. Faz-me bem e, quem sabe, seja a única boa produção que minha metade anda a tratar por sua. Criação pouco original, porém inteiramente dedicada ao que deixaste em mim. Essa totalidade potentíssima e criadora, na qual inaugurei a minha humanidade e na qual compreendi que era demasiado instável para compor duetos ou filar intimidades permanentes.

A única coisa que não direi é o quanto me dói. O quanto fere esse continente entre nossos sonhos e abraços mais íntimos e sinceros. Não direi o quanto durou as dores de meus passos sozinhos nessas ruas que deveriam ter-me sido apresentadas por ti. Depois de tanto, depois de tudo que me coloriu as letras e a bondade para com meus pecados, posso dormir e esperar por amanhã.

Por fim, meu amor, quero que saibas que continuo comprando lembranças por onde ando. Coisas para ti. Coisas que sei, adorarias. Faço isso, por jamais encontrar fim para tudo o que me deste, para tudo quanto inauguraste em mim – teses, livros, saudades, amores infinitos, casa própria. Levo daqui um chaveiro com teu nome, para uma chave que não dormirá em sua argola, mas que, em mim, abrirá sempre essas imensidões onde se escuta o teu nome, onde tens tudo o que merecias que eu te desse.


Sinceramente,

J.Mattos

Um comentário:

Anônimo disse...

QUE ASSIM SEJA POETA, NESTA E EM MUITAS OUTRAS ERAS.