quinta-feira, 14 de abril de 2011

Culminância

Para o meu amigo Marcelo Costa,
náufrago resgatado das mesmas ilhas desertas.

Já vai amor, a porta já vai fechar, não tenha medo. Ninguém ouvia essas coisas, apenas eu, enquanto ia morrendo para o dia e crepitavam minhas visões semicondutoras do sono. Já tinha passado a gravidade do choque. A paz é logo agora, vida. Debruçava sobre a minha certeza e ficava pronto para o útero. Enrolado em mim, descendo em círculos para o sono sagrado dos que demais sentem o fator humano da culpa ou do amor. Ninguém ouvia o que ela me dizia em segredo e, no entanto era justamente o que me salvava. Nossa foto ninguém achará, não temos corpo um no outro. Era uma coisa solta que vinha doendo não sei de onde, mas uma dor que prenunciava a sanidade, a cura precípua do que herdou o bizarro dom da invenção do poema. Tudo o que me ancora, neste momento vem daquelas palavras ditas em sussurro nos meus ouvidos, por tantas vezes abandonados e acrescidos dos efeitos vultosos da minha loucura e veja: eu estou vivo! Sim amor, agora eu posso voltar para a distância, quando precisares me chama, venho correndo. Essas palavras que não perfazem mais do que um piscar de olhos, que não fortalecem mais do que meus ossos cansados e que, irreconhecíveis a tantos, vêm louvar minha solidão e minha estrutura e me fazem crer que tenho mais tostões que capital; me fazem vencer meu choro, pois amor e carne em mesma proporção me oferecem. Descansa que já é hora, amor. Vou fazer isso, tenha certeza. E quando o inverno passar te espero no cume do mundo, pronto para enxergar o que alcançamos. J.M.N.

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