A minha geração é um truque. Uma casta de desprovidos genéricos, de tudo e todos – sentimentos à parte em hecatombes de descrença e virtualidade desembestada. Minha geração não aprendeu o certo, porque dos erros fez rotina e cala-se às etapas duras da morte em vida, aprender natural de obviedades biológicas e satíricas. Herdou os cuidados da outra, encontrada em trincheiras, espremida nos rolos da história (ferida de carne, flor em poesia e arte e transcendência), torturada e acrescida de horrores gélidos, em porões esquecida. Minha geração ficou entre o cumprir-se poético e a realidade menos morta, ficou no rastro do Cálice, tendo tanto a chorar e a sofrer precipitadamente. Cabe sempre a pergunta, o que é falta, se tudo há, se tudo pode? E quando os reinos iniciarem seus declínios não haveremos de aceder como estadistas ou modernistas, pois o transitivo do verbo amar se apaga a cada armadilha auto infligida e executa o desejo, obrigando-o a voltar-se a si mesmo, encantado em espelhos, mas menos belo que Narciso. Minha geração produz a fome e a miséria de suas crianças e, avara, sustenta proselitismos e clientes vários, sob a certeza de se estar a caminho do belo, do mais forte. O que me ocorre é um desgaste, uma irritação por não ter os grilhões ou as armas e ter manhãs tão claras que as rosas proliferam como em sopros e as multidões desandam numa marcha única, mas sem fim, cujo começo é o estado do querer e o final, decerto, será escrito no vazio do olho, na vastidão das perguntas refeitas. Não há caminhos, porque não há destinos e nunca houve tamanha malversação da palavra esperança. Minha geração é a que desiste primeiro, porque primeiro a ela foi ofertada a possibilidade de desistir. O que nos falta hoje, que o passado já está nos livros e anais e verbetes? O que nos trai agora que nossa agonia é matéria de dramaturgia corriqueira e dela nutre-se num espasmo repetido e infindo? Minha geração é abastada em demasia. Fraqueada à nascença e foi deitar no berço esplendido que não lhe cabia. Talvez por ser bastante ingênua, talvez por não ter as pernas firmes quando parte em busca dos amores de perdição. E se real é a fonte deste grito, melhor que a mão o execute logo, pois como nos versos do poeta antigo, não havendo o ato ou dissimulando-se motivos, o coração perdoa. J.M.N
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