segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Estrela, Estrela

Esther Monarca cantava em cabarés. Desde a adolescência emprestava a voz para fundo de amores pagos e beijos ausentes nos infernos dos solitários por ai. Beleza que ninguém reparava, pois parecia mais um detalhe sórdido entre tantos espalhados pelas paredes dos lugares em que costumava cantar.

Cantava dores, noites intensas de luares impossíveis para si. Os homens muitas vezes reconheciam aquela voz e fumavam cigarros sobre sua solidão, sempre em silêncio, sempre à distância. Parecia não quererem reconhecer que seus olhos eram de um castanho tão incomum que dava cor às lágrimas que chorava em seu canto.

Esther tinha um nome de batismo impronunciável. Decidiu ser uma estrela e como tal, fulgurava num solo eterno, às vezes de pé, no centro do palco, com as luzes impiedosas varrendo sua pele muito branca e infeliz. Outras vezes sentava num banco, no canto esquerdo do palco e olhava a banda tocar como se não fossem seus companheiros e a música que deles saía não fosse a rede para sua voz.

Um dia saiu do palco antes do fim da última música. Foi ao camarim limpar os quilos de maquiagem. Alguém entrou logo em seguida. Imediatamente se pôs de joelhos. Pronunciou umas frases bem curtas com os sinônimos da alegria esquecida de Esther. Ela sorria. Não sabia se de si mesma, se das coisas que ouvia. Não era riso de pilhéria, mas de encontro.

E no fim das coisas que aquele homem disse em seu camarim, pediu-lhe um bis. Ela voltou ao palco. E cantou tudo novamente, acrescentando um sorriso ao fim de cada estrofe, ao fundo de cada falsete. Foi a primeira vez que ouviu os aplausos. Foi a primeira vez que saiu acompanhada de um cabaré. J.M.N.

5 comentários:

Wagner Dias Caldeira disse...

Faltou colocar o "para ler escutando": Estrela, Estrela / Como ser assim / tão só, tão só / e nunca sofrer...

Anônimo disse...

Essa foi a última música do bis, Waltinho

Anônimo disse...

Texto lindo. Reparei a presenca de mais personagens nas coisas que escreve. Muito bom.

Lua

Anônimo disse...

Queria saber de onde tiras esses nomes mirabolantes. Fazem os personagens serem mais reais, acho.

Mel.

Anônimo disse...

Cara,

Muito bom o blog de vocês. Literatura de primeira.
Estes contos são muito bons e também as palavras sobre os filmes.
Seria legal se pudessem dar mais indicações de leitura.

Um abraço.

Igor Cunha
Belém