terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

O cartógrafo

Desceu as cordilheiras com ambas as mãos vitoriosas, carregando com prudência a pequena eletricidade que brotava sob elas. Passou às estradas sinuosas cujo fim era a companhia do chão, a planta dos passos esguios que apenas naquele terreno, sabia existirem. E voltou para desenhar sua rota no vale, deitado sobre a pluma que o continha e fazia formigar em seu centro a certeza de pertencer a ela, sem previdência, sem aparelhos de segurança. O calor que daquele solo emanava, o perfume profuso de sua corola púrpura. As mãos obedecendo aos traços do terreno, ao liso sedimentar daquela aventura. Não tinha instrumentos. Não possuía compasso ou bússola e mesmo assim estava orientado, rumo aos morros morenos que se antepunham à garganta. Na gruta de entrada o leve ar do desatino, ultimando a essência do que viria a ser sua morte por motivo único – dar-se. Os marcos, os trópicos, os meridianos daquele belíssimo reino ao sul de toda sua razão, estavam agora devidamente postos em plano, elaborados na memória táctil de sua entrega. O universo, depois de sua viagem, parecia fadado a ser o corte sagital daquele reino, de tão ínfimo e sem sentido. De tão inoportuno que apenas serviria para dividir em partes iguais a sua conquista. J.M.N.

Nenhum comentário: