segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Ensinar

Quando vi este mundo tu já não o vias mais. O peso repetido da rotina foi aos poucos tornando desnecessárias também as tuas palavras. O soluço da mola do teu colchão pela manhã era o aviso de acordar. A queixa fina da porta do quintal era o convite para lida.

Hoje, segurando o couro duro da tua mão, senti o peso do terçado que trouxestes durante toda a minha infância, como uma extensão do teu próprio braço.

Eu te guiava até o local onde havíamos parado no dia anterior. Pousavas os teus olhos sem vida na direção da terra seca como se estivesses a ameaçar a vegetação. Então o cheiro de mato cortado se confundia com teu próprio cheiro. Eu acompanhava calado os teus golpes alinhavando o ar e inventando o vento. Me alegrava aquela chuva verde fazendo o sol em retalhos de luz.

Um dia te destes por satisfeito, e eu vi o horizonte que se escondia por trás do capinzal vencido. Nessa manhã terminastes de me exemplar com o teu trabalho, e começastes a me perder com a tua oferenda. WDC

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