segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Pesos e medidas

Enquanto dura essa trégua com minhas idades eu corro. Corro para o centro do mundo, batom bem vermelho para beijar o destino.
Sou novamente uma mulher com lantejoulas e brilho, ornada dos pés à cabeça para entrar dentro dele e fazer um ninho eterno, com novelos turcos, ácido e paixão fulminante.
Enquanto escuto o ronco do motor do carro, sei que ele me espera. Vindo de sabe-se lá quantas estradas e bocas. Mas não me importo, no fim das contas ele é meu. No fim da noite é minha carne que acoberta a carne dele. São nossas faltas que se aglutinam em sinal de remissão dos pecados.
O mundo se estende sob nós. Derrotados os olhares menos poderosos ao redor de nossa mesa. A fome que mostramos é civilizada, mas ambas as mão esquerdas estão descobrindo as plateias dos corpos por debaixo do pano da mesa.
Todos os dias ele me vê atuar como a genuína amante que se entrega ao espelho antes do trabalho. Meio esquecida de si. Um olho na roupa, outro na saudade que a imagem dele deitado em minha cama deixa.
Deixo-o ao longo do dia esperando para saber se ainda o quero.
Quando a noite cai, com seu veludo de ânsia e vulgaridade sou o que ele quer que eu seja. Pouco importa. Sou sua lupa para os detalhes do beijo, seu vegetal, sua puta. Posso encarnar a enfermeira ou a mulher que pede sempre mais desprezo e dor.
Posso ser menos que um grama do pior ouro, contanto que seja dele inteiramente.
Contanto que seja eu a decidir. J.M.N.

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