terça-feira, 23 de novembro de 2010

Do amor, artesão

Enquanto procurava ofício, as luas encharcavam minhas noites atendendo a um desígnio de Deus ou talvez a fisiologia repetida de minha espécie. Minha casta se arrepende depois de tudo perder e esquecer entre silêncios, orfandade e efeitos colaterais da automedicação. Tinha duas opções, entender e viver. Escolhendo as duas, decidi apenas, no final de tudo, apostar que algo sairia melhor do que antes.

Assim quando me chamaram trágico, aceitei. Quando me disseram solitário, entendi. Porém, quando me disseram incapaz de amar, meu sangue ferveu. Estava na hora de contar a história num tom diferente. Agora que a água da chuva é pouca por dentro de mim, que ando seco a procurar novas belezas, novas esperanças entre beijos e cordas de violão, posso assumir que tudo foi um grande prefácio. Prólogo nem sempre bem escrito para uma história de antes e depois dos homens.

De um lado minha família diminui e ainda espero a chance de explicar que minha maior perda foi o colo de Virgínia, meu maior ganho a natureza de meu filho e minha maior esperança a carta que ela acaba de me enviar. Fico aqui a escrever atrás de fotografias, ordenando na mente o que me aconteceu. E, pasmo, descubro que, tirante uma ou outra morte passageira, a eternidade sempre me acompanhou. Por dentro e por fora. E antes que ela se encante de mim para sempre, vou refazendo meus artefatos, reinscrevendo meu nome das árvores.

O amor me espera como a argila em bloco, e minhas mãos já nasceram preparadas. J.M.N.

Trilha sonora…

7 comentários:

Dudu Neves disse...

Neto meu mano, quanta emoção pulsando em tuas linhas, há tempos não vinha aqui te visitar, mas tinha certeza da emoção. grande abraço e parabens pelo niver.
Dudu.

José Mattos disse...

Dudu, mano velho,
De um letrista de seu calibre isso é mais que elogio.

Um abraço,

J.Mattos

Anônimo disse...

Essas coisas que escreves me deixam nas nuvens. Devo confessar que sao muito sedutoras.

Beijos,

Liz.

Wagner Dias Caldeira disse...

Não sei não, mas será que a felicidade mora em outro canto que não dentro de nós mesmos?

José Mattos disse...

Volte sempre Liz. Aqui tem sempre lugar para quem se cumpre como pessoa.

J.mattos

Moahrawë disse...

"O amor me espera como a argila em bloco, e minhas mãos já nasceram preparadas"...

...artesão dos sentimentos, das palavras, do inominável...

...quanto a mim,
meu caro senhor,
elaboro, ad infinitum,
amor e transcendências...
...

...moahra...

José Mattos disse...

Finalmente vc por aui... resta o encontro mesmo.

Bj.

J.Mattos