quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Bilhetes Interditados I

Amor,

Aqui tá fazendo muito Sol. As tardes tem um cheiro especial de flores que eu não conhecia. Teus olhos iriam fazer diferença no mar de olhares perdidos que se encontram em redor. Já faz um ano que me esforço para não chorar. Toda a tristeza se foi por ai. Já nem sei se preciso dela para a volta. Talvez possamos deixar de lado os porquês e entrar de vez no amor, não achas? Sabe o livro que esqueci ao sair de casa? Encontrei por aqui e não pude deixar de lembrar que trazia as frases de amor que eu queria ter inventado. Por pouco a surpresa de sentir falta não se desfaz. Ainda ontem parei e encontrei umas sementes de gerânios. Vou levar para ti. Assim como vou levar as distâncias todas que escusei de percorrer pensando que me levariam para muito longe, faz delas o que bem te apetecer. Em minha pálpebras mora a desilusão com alguns dos meus sonhos. Vou precisar da tua certeza para desfazer o mal entendido. Talvez possa deixar um pouco de mim. Os pátios e conventos já me convenceram da santidade e o sagrado do teu beijo parece bem mais do que qualquer oração. O amor me confessou que sente inveja. Eu também sinto esse tipo de coisas. Queria ter asas. Queria o mesmo espaço que é infinito. Queria ser sabido, entender as coisas de cá. Para além disso, me faria feliz um ouro qualquer, apenas para conseguir construir um mirante. Sabe amor, lá eu poderia te roubar o vento das noites limpas e te mostrar as lonjuras por onde eu vim. Já não estaria mentindo. Teria menos pecados, pois tu me absolverias e os pequenos gerânios, brotando ao nosso lado, dariam o sinal de que qualquer coisa resiste, se estiver perto de ti. J.M.N.

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