quinta-feira, 28 de outubro de 2010

So I Walked In The Rain

Tinha esse estranho hábito de ser teu. Completamente, como as estações do ano acontecem na Bavária e noutros lugares impensáveis. Era todo junto de tuas condições e percalços, todo certo de ter razão e chão que me amparassem definitivamente. Todo feito de amor e descanso.

Aí aqueles gelos do Atlântico. Como freqüências subatômicas e reincidentes. Fui descendo tristemente do horizonte incondicional que me davas. Regado pelas chuvas do continente, ilhado, com a latitude empenhada em descoberta pessoal e tão necessária. Pouco afeito a partilhar os passos, tão cansado que estava de não chegar a lugar nenhum.

E então abri a porta da casa e saí pela chuva. Acordara as vielas mofadas de minha genealogia mais pura. Amar, eu amava e continuava impreterivelmente teu. Chamava amor ao medo de sentir sem te incluir, pedaço que eras dessa carne corpórea que me arquiteta aventuras e achados. Todo teu por oração e força. Tão mais meu por conta própria.

De que adianta saber dos gostos da chuva atlântica? De que saberá a história de Espanha, ao reconhecer no meu gesto de procura, estar na cidade mais perto à tua, para fazer-me sempre presente? Tão tua que não vergaste sequer em tua espera. Esse momento que era só teu em tua presença. E eu, todo contente de ter finalmente encontrado um rumo, continuava com medo de não acordar jamais.

Tão sentimental que deixei a chuva me socorrer e limpar. Tão acordado para as venturas de ser, que nem quis mais saber por que teimavas tanto em me ver mudado, cabendo na esperança dos teus, longe de mim para sempre.

Escuta amor, estas últimas gotas são lágrimas. E caem de saudade e milagre. Ainda tenho alguns hábitos que apenas eu suporto ter. Dentre eles te amar como sou, até que a lua fique de ponta cabeça. Até que aconteça de eu morrer, afinal. J.M.N.

Para ler escutando…

4 comentários:

Anônimo disse...

"Escuta amor, estas últimas gotas são lágrimas. E caem de saudade e milagre. Ainda tenho alguns hábitos que apenas eu suporto ter. Dentre eles te amar como sou, até que a lua fique de ponta cabeça. Até que aconteça de eu morrer, afinal". J.M.N.

Isto foi a coisa mais alucinante que já li, um delírio, belo demais.

Só você para escrever algo assim,tão intenso e imediato.

Você é demais, sensacional, indescritível.É por isso que te curto tanto.

Anônimo disse...

Meu querido,

Esse texto e lindo demais. Digno de um grande escritor.
Espero mesmo ver seu livro publicado.

Bjs,

F.

Anônimo disse...

Profundo e belo.

Gosto cada vez mais do blog.

Gina

Anônimo disse...

Nossa! A música é tudo de bom como fundo. E o texto!?
Lindo, lindo Mesmo.