A mulher que curou a náusea do existencialista com o amargo aveludado do boldo, tinha um colo de acalmar vendavais. Passava as madrugadas a afumentar os filhos com uma alquimia ao mesmo tempo índia e escrava. Quantos dos sete filhos viessem com o peito morado de catarro ou desilusão, era o quanto ela esfregava aquela mão coberta de pintas e rezas.
Não era de interromper tiração de bustela com remada, mas nunca negou uma lição na carne ou no juízo que, diga-se, os filhos nunca aprenderam.
Suas certezas foram transmitidas como uma ciência particular e inquestionável: não abrir geladeira com o corpo quente. Não comer manga quando atacado de febre. Nas tempestades com trovões cobrir os espelhos e pendurar boneca de papel atrás da porta. Nas gestações, jogar tesoura no chão pra adivinhar o sexo do moleque (se caia aberta, era mais uma sofredora no mundo).
Aceitou resignada quando a rasga-mortalha proferiu seu mau agouro sobre a casa. Depois de um tempo ninguém morreu, a não ser a última infância daquela horda de pândegos. E quando termina a infância, o que há mais para ser cuidado? Mas essa senhora está sempre às voltas com um piquerão de coisas pra fazer. Cuidou então de amenizar esse sangue furioso que, como um arame tenso, uma tripa esticada, une as gerações de uma árvore inquieta. Tornou-se apaziguadora desse amor violento, que quanto mais eles escondem, mais se vê.WDC
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