Pareceu muito até agora, mas provastes apenas um punhado da minha crueldade. Sei que aprecias algumas maldades matinais, como da última vez que te acordei, mas as garras que me cresceram desde ontem sei que vão dilacerar teu dentro e mostrar um avesso que escondes com vigor, como uma daquelas violências que cometemos nos quintais da infância.
Ontem, enroscada em penumbras e atenções estrangeiras, me roubastes um pouco do meu equilíbrio. Deves ter percebido que, de súbito, a rua me pareceu uma corda bamba, e eu nem sequer tinha um guarda-chuva pra amenizar a cena. Me recompus, e com a mesma pressa com que fui tirado do meu eixo. Veio-me uma lufada de contentamento, uma pequena felicidade. Este pequeno frêmito depois do assalto, explico, foi pelo simples fato de certificar-me que não sou o escolhido; que em volta de mim não há nenhum satélite ocupado em cumprir a sua órbita e que, assim, sou um homem livre.
Não tentes, no entanto, sorver os restos do meu veneno. Poupe-se. Não há porque procurar a dor se ela não te apetece. Juntemos os nossos silêncios e forjemos uma indiferença mútua. Eu já te amei com força e sei que, por seu turno, ainda me amas, mas esta é a hora em que o amor não vencerá a falta de desvelos e a proximidade de inevitáveis dissabores. Fique consigo mesma, os seus arredores já foram pra mim os lugares mais confortáveis e agora, pra ti, são os abrigos mais seguros. WDC
3 comentários:
Lindo cara...
...belo belo!...
Moahra, é o primeiro comentário teu, mas parece que sempre estivestes conosco. Volta sempre e logo.
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