domingo, 19 de dezembro de 2010

Frequentes

Espero, sinceramente, que a minha sazonalidade não te afete. Não te exaspere esse banzo de linhas e lenços. Não quero pra mim a dádiva da prodigalidade, mas o dom da freqüência. Te daria um gotejar intermitente de carinhos e pequenas melancolias. Te presentearia com escravos africanos pra guardar teus livros. Fiaria as nossas intermináveis pelejas da memória. Mesmo à distância, o cotidiano, construí-lo-ia em ouro invisível pra unir-nos numa liga qualquer. Foi dessa matéria o meu sonho depois daquela tarde em que me cobrastes, pela via da falta que te faço, que eu apareça todos os dias; que escreva sobre mim, fale e silencie, mas que esteja ali, ao teu lado, tentando uma completude que se busca e se quer. Mas que não se alcance. Se gostei dos teus poemas? Sim. Eles parecem aquelas janelas coloniais que se abrem pra paisagem. São de uma nudez quase cruel. Queria ter te falado logo isso, mas continuo tendo problema com os teus olhos. Com esse estranho poder que eles têm de me despir da filosofia e da experiência. Vamos, enrodilhando os dedos, passar de “não te deixarei sem jeito com meu olhar”? Pode ser que eu não veja os calos e as rugas perderem seu valor diante do teu primeiro bom dia e do teu último tchau.WDC

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