Para o grande amor
A festa teria de tudo. Uma canção escolhida para que eu entrasse em roupa de festa, gravata preta, muito elegante, cantando numa língua que ninguém mais entenderia a não ser ela.
Ela, por sua vez, simples e bela, com flores em uma das mãos e na outra um pequeno papel com votos de eternidade.
Todos voltariam os olhos para nos ver encontrados no meio do passadiço todo enfeitado.
O mundo inteiro estancaria diante do reconhecimento daquele brilho único, emanado por nós.
Com um ou mais detalhes era para ser assim. Um feito devotado de amor.
Em vez disso, o reconhecimento de que tudo acontece do jeito que tem de ser.
E a distância, esta dama coroada e trajando às vezes luto, às vezes veludo grená, é quem toma conta da festa agora.
Acabo de abrir uma garrafa de vinho.
A noite pesa como uma montanha inteira sobre meu peito.
Em cada gole desfaço um verso.
A cada encher da taça, uma lembrança ganha gosto, cor e cheiro. E bebo-a.
Sorvo anos engarrafados de vinhedos bem cultivados, como agora me encho da década de amor feita por nós, colhido com cuidado de antanho, alcóolatra.
Antes de o mundo acabar, antes do sol se tornar um precipício cósmico para nossas eras neste plano, entregarei a outra metade minha a que ela tem direito.
Mas antes, apenas esse brinde distante e sozinho, indo ao encontro não sei bem de quê, não sei bem aonde, pavimentando meus órgãos com uma saudade que não pode ser apenas minha. J.M.N.
A única trilha sonora possível…
2 comentários:
Querido, com tanta coisa dentro não é de espantar que ainda vejas tantas coisas pelo retrovisor. Essa estrada, talvez, tenhas de cruzar sozinho.
Sempre tua. Sempre perto.
M.
Um outra trilha sonora possível: "Little Lou, Ugly Jack, Prophet John" (Belle and Sebastian).
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