quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Micro-romance VI

Qual foi a chave, a escritura? Qual foi a carta que ficou manchada ou confusa? Tantas perguntas e o que me deixa pasmo é esse silêncio sobre as coisas inacabadas: o balcão da casa, penteadeira de nossas filhas, a aparição de um casulo na janela feliz de nossa terceira primavera.

As meninas que diriam mamãe e papai vezes sem fim. Chamaríamos família à conquista de muitos anos. Abrir o peito e dizer de uma vez o que aquece nossa alma conjunta. Às vezes chamo de Gildo aos amigos. Um nome incomum para bancar a criatura fugida de meu desespero. E quando os chamo assim, parte de mim fica melhor, mais humana.

E eles refilam, deixam de crer que ando normal. Mas, afinal, quem anda comumente esses dias? Tenho mais uma coisa para saber antes de acabar com isso...

De todas as piores coisas que eu fiz, qual foi aquela que perdoaste completamente?

Sei que houve, por isso pergunto. Talvez ao saber como se deu teu perdão, possa clinicar internamente meu próprio indulto para comigo. Costurar minhas escaras, reverter minha solidão e escrever mais linhas gentis àqueles que insistem em me chamar de maldito.

De qualquer maneira, tudo depende do que eu senti por ti um dia. J.M.N.