Ouço os passos do leão antigo a espreitar minha tenda no deserto. Ouço sua fome fatal respirada em arfante espera pela carne. Um meu desaviso bastaria para cair em suas garras
Ouço muito longe também o barulho das ondas imensas daquele mar de agosto, provendo a costa da pequena cidade com alimento e brisa. Tudo era tranqüilidade
E a janela sob a qual dormíamos era o espaço sideral em sonho compartilhado
Hoje tenho uma sede duradoura e doentia. Por sumos e poções que estão além desta existência. Que andam na memória. Nas bordas das fotografias
Nos olhos azuis que reclamam ultramar. Infante, infante, corre que o dia já vai morrer
Era o que me dizia a beleza dela em vestidos floridos, ora amarelo-sol, ora meu sangue que só ela tinha. Pararia a rotação terrestre se a visse entrar por esta porta, azaléias na mão direita e um convite à luta armada
Deixaria de esconder o rosto ao passar naquela rua, cuja única direção é para longe
E seu sorriso esculpi em pedras que não são daqui. Apenas para um beijo eterno, seu lábio pétreo por mim formado. Sem braços o busto feito, para não correr o risco de cair capturado. E a música me leva à aurora dos tempos. E sinto saudades do que ainda não vejo por ser um segredo que levo apenas comigo.
J.M.N.
2 comentários:
...não tem jeito, como clarice, "eu só sei em todas as circunstâncias ser íntima: por isso sou mais uma calada"...e quando falo, é sempre de mim, mesmo que seja o mundo e suas misérias o tema do diálogo que ainda insisto em recomeçar com os homens do nosso tempo..
...pouco importa saber quem sou.
O que me move é o desejo de descobrir o mundo...e, com clarice também
fiquei certa: "o que desejo ainda não tem nome"...
...por isso avanço,
como o errante leão que no deserto te espreita,
neste mistério de estar-sendo!...
....sei: o leão é o próprio desejo de vida!
...engraçado, outra coincidência: também sou acometida por uma saudade do que intuo somente...porque em mim intuição é anuncio do não-pensado,
inconsciente desejado!
moahra
A intimidade forjada em letras... Nada mais duradouro.
J.Mattos
Postar um comentário