quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Quando eu resolvi me esquecer

Sem dó nem compaixão me esqueci. Dia cinco de mês e ano quaisquer. Em meio ao abraço, desaparecido. Promessas de eternidade quebradas. Amado eu já tinha sentido ser. Porém não naquela altura. Tinha esquecido qual era o gosto de saber-me. De qualquer jeito, acabara ali minha unidade com meu antes. Deu-se um salto no tempo em que tinha para relatar-me feito história acontecida. Não disse nada. Você não me obrigou e mesmo assim eu fiz um discurso de abandono. Fiz meu monstro literário nascer bem ali. Escrito a sangue no primeiro dia de meu esquecimento.

Você não tinha culpa. Não tinha peito. Sequer uma cama para abrandar minha luta. Não tinha fósforo para o incêndio. Eu me despia e era seu apenas isso. Um nó no peito. Dó de não me ter por perto. Endireitado como um esquecido. Como um violado. Minhas palavras nasceram sem mãe nem pai. Deuses e Diabos contribuíram. Carne de primeira aquela sua. Jamais voltei. Perdi o terço. Minha avó sabia quando me indicou Santo Expedito. Estou preso em mim. Esperando do lado de fora, entrar. E vejo saindo os arrependidos, os mal vividos. E eu não saio nunca.

Você não tinha jeito. E eu não tinha direito de ser sem mim, antagonista desta vida inteira. Tanto quanto eu, você era sem ser. Não tinha trejeito que recompusesse. Eu sabia tão pouco sobre mim e mesmo assim, fui adiante. Vê se me esquece. Cresce e desaparece. Nunca mais volte ao passado que lá eu sou apenas meu. O que escrevo, escreve-se e fala sobre amanhãs e postais. Meu monstro dorme insuperável e eu, apenas esqueço uma ou outra palavra. Meu bicho, se você não sabe, é uma mulher que nunca existiu. J.M.N.


Para ler escutando...

3 comentários:

Isoldinha disse...

Caramba, Neto, tô me desfazendo aqui.pareceu uma punhalada no peito esta.

Anônimo disse...

Lírica impressionante. Como se fosse um rasgo em si.

Lindo mesmo!

Marília Alves
SP

José Mattos disse...

Isoldinha,

Tempos de harakiri minha amiga...

Simbólico, é claro, que a vida me chama.

Bj,

J.Mattos