segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Desgoverno

Entrava e saía do meu corpo. Escorregadia, dobrável. Serpente tateando meus sonhos, abrindo caminhos dentro das minhas maiores insuficiências. Dormia comigo e me fazia bem. Acordava e gritava como não houvesse promessas entre nós. Me fazia mal, depois os risos. Nunca arcava com as conseqüências de nada. Tinha pessoas preocupadas em lhe dar o que lhe negaram ao nascer. Era isso que se reproduzia em seus galanteios. Um eco de coisas que jamais teve. Uma mentira muito bem contada. Afinal de contas era aquilo que nos unia. O que não tínhamos para oferecer um ao outro, porém buscávamos. E não passamos disso. Meu corpo pedia sua presença como uma droga muito rara e específica ao funcionamento de minhas esperanças. Ela era tudo o que eu tinha pedido para ter. Era a mais perfeita aparição do que não devia. Mas ai um dia, mordi meu lábio enquanto a amava, desesperado e sensível como nunca, e nesse momento entendi o quanto estava longe dela. Longe de compromissos ou equilíbrio. Vi que o sangue que escorria era apenas o meu. J.M.N.

2 comentários:

Renato Gimenes disse...

Meu amigo

Conhecemos bem este sangue,conhecemos bem este estado
não tão sólido. Por mais que assinemos tratados de paz, e declarações de armistício, nosso contrapeso no peito coroa esse misto de anarquia, amor, guerra civil, whisky e trabalho.

Bom, temos, ainda que vacilantes, as palavras. Elas também escorrem como sangue, mas quando bem usadas, são transfusão.

Aquele abraço!

José Mattos disse...

Caríssimo,

Aquele whisky ainda está de pé. Palavras ébrias para descontar nosso cansaço.

Abs,

J.Mattos