segunda-feira, 5 de julho de 2010

Do jeito que chegastes

Viestes. Dessas distâncias do tempo viestes como quem renasceu. Com teu magma incandescente deixando-se revelar úmido da indecência de sempre. Logo depois de um oi apressado já desandavas a mapear de memória detalhes do meu corpo que nem eu lembrava. De passeios transidos pela madrugada da minha querência. Das infinitas formas de acordar do teu lado. Dos insetos acordando a manhã, dos girassóis debruçados sobre a janela, da janela que enquadrou primeiro nossos sonhos e depois a minha solidão. De uma pureza tardia que me levastes - e que por isso te agradeço. Logo tua mão em concha já me aninhava inteiro, como se fosse eu um filho sonhado por uma montanha. Do teu lado não tenho apelos ou botes. Por muitos anos foi de ti que emanou tudo que era de exaspero e conforto. Sabes as minhas sendas, sedes e intervalos. Finalizastes lembrando do horário do almoço, dos talheres pedindo liberdade, das louças que sobraram. Da realidade enfim. Fostes fazer a tua comida. E eu é que fiquei com fome. WDC

Um comentário:

Anônimo disse...

Do jeito que se chega, das lembranças em queda livre que se lançam de janelas do passado,de poemas colados em paredes distantes, de miúdos toques guardados em cacos da epiderme agora não mais com viço de outrora,da pureza roubada e da fome de anteontem.Da fantasia, enfim......