segunda-feira, 26 de julho de 2010

A festa do reconhecido

“Quero o que antes da vida
foi o sono profundo das espécies,
a graça de um estado.
Semente.
Muito mais que raízes.”

Adélia Prado

Chega o barco com riso e canto, pelas águas deixando o rastro ainda desconhecido. Pensei nos primeiros moradores. Quem ainda sequer sabia o nome daquelas terras. As canoas e seus meninos pedindo coisas para a gente que viajava comigo. Comida atirada e a fome remando rápido para vencer as ondas. Ia chegando. O dia alto fazia sombra em minhas dúvidas. Tudo nascia e tinha cheiro de novidade.

Ninguém me esperava no porto. Sinal que não sabia como entender. A casa pode ser longe. Ela pode não estar esperando. Deu uma funda dor de acomodar os pensamentos naquele porto. Pessoas me reconhecendo e convites aceitos para a noite da festa. Fomos andando. Ao chegar a casa meus ossos responderam às perguntas da ansiedade e minha estrutura até tentou fixar um ponto no horizonte. Isto apenas até ouvir a voz dela.

Que me deu uma febre estarrecedora. Uma maleita parecia. Um quiprocó de geladeira. Suava feito cristal banhado. E fazia vento na minha espinha. Fui andando ao seu encontro. Fui fazendo pensamentos de ter sido esquecido. Nada disso, ela me abriu o mundo no seu sorriso e a prenda da espera compensou todo o sol fervente do meio dia. Eu em seus braços. Amor crescido em água de olhar desejo e sina. Mudei-me para dentro dela naquele instante e decidi que minha casa aguda e recém desmoronada seria refeita. J.M.N.

Um comentário:

Isoldinha disse...

Sabes que meu primeiro contato com Adélia Prado foi através de ti, na casa do Guga? Nunca te agradeci.Adélia aquece minha alma.
Lindo teu texto.Têm pessoas que abrem mundos e universos com um sorriso mesmo.