“Quero o que antes da vida
foi o sono profundo das espécies,
a graça de um estado.
Semente.
Muito mais que raízes.”
Adélia Prado
Chega o barco com riso e canto, pelas águas deixando o rastro ainda desconhecido. Pensei nos primeiros moradores. Quem ainda sequer sabia o nome daquelas terras. As canoas e seus meninos pedindo coisas para a gente que viajava comigo. Comida atirada e a fome remando rápido para vencer as ondas. Ia chegando. O dia alto fazia sombra em minhas dúvidas. Tudo nascia e tinha cheiro de novidade.
Ninguém me esperava no porto. Sinal que não sabia como entender. A casa pode ser longe. Ela pode não estar esperando. Deu uma funda dor de acomodar os pensamentos naquele porto. Pessoas me reconhecendo e convites aceitos para a noite da festa. Fomos andando. Ao chegar a casa meus ossos responderam às perguntas da ansiedade e minha estrutura até tentou fixar um ponto no horizonte. Isto apenas até ouvir a voz dela.
Que me deu uma febre estarrecedora. Uma maleita parecia. Um quiprocó de geladeira. Suava feito cristal banhado. E fazia vento na minha espinha. Fui andando ao seu encontro. Fui fazendo pensamentos de ter sido esquecido. Nada disso, ela me abriu o mundo no seu sorriso e a prenda da espera compensou todo o sol fervente do meio dia. Eu em seus braços. Amor crescido em água de olhar desejo e sina. Mudei-me para dentro dela naquele instante e decidi que minha casa aguda e recém desmoronada seria refeita. J.M.N.
Um comentário:
Sabes que meu primeiro contato com Adélia Prado foi através de ti, na casa do Guga? Nunca te agradeci.Adélia aquece minha alma.
Lindo teu texto.Têm pessoas que abrem mundos e universos com um sorriso mesmo.
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