quinta-feira, 8 de julho de 2010

Escravo da alegria

Por tudo o que eu quis dizer e não disse.

Descobri ser o que sou entre os cantos de Orixás, entre as missas de que escapava, entre os beijos mais demorados. Descobri no preceito de existir demais que a cumplicidade pode nascer num primeiro segundo de olhar enviesado – anteparo de todo medo. Deixei tudo para trás no verão que me consumiu integralmente e devolveu muito de minha matéria ao solo exaurido sob meus passos. Eu que andava numa escuridão escolhida. Uma escuridão funda de um amor que não desatava meus nós no porto. Ai aquela luz que entrou farta nas frestas. Que amputou meus membros e refez minha anatomia. Aquela luz que me fez atinar para o que faltava tanto, para o que eu queria tanto querer e sentia vergonha e fúria de não possuir. Eu que nem sequer tentara represar minha loucura, encontrei na luz dela a maior de todas as demências, a maior de todas as promessas – a eternidade num grão de areia do meu deserto. Era demais o teor das substâncias impuras. Era demais a fase incandescente daquela existência. Fatalmente me fez renascer mais doído e agudo do que me houvera. Mais assaz e guarnecido do que os que vieram antes de mim. E essa escória decantada que ela deixou no meu soalho, essa urdidura esfacelada que nada soma, porém retém, tomam a maior parte dos meus ritos, a maior nota dos meus cantos. A menor poeira do seu sorriso é a matéria que me recompõe toda estrutura. No de repente em que me aconteceu a sua vinda, alegria escravizou todo meu rumo. J.M.N.

Para ler escutando…

3 comentários:

Anônimo disse...

Puta merda!
Que texto lindo.

Mônica

Anônimo disse...

Meu lindo que texto maravilhoso.
Muito bom mesmo.

RTD

Anônimo disse...

Lindo, febril, atual.
Amo o blog de vocês.