sábado, 29 de maio de 2010

Pras Duas que Esperam

É por essas duas mulheres o meu exílio semanal. Pra que me liguem, uma pra dizer que tem saudade mas que está feliz porque é dia de miojo, a outra pra declarar o seu amor e dizer que o vazio que deixo lhe dói o tempo inteiro. Na estrada sempre chove, e os pingos no para brisa da van me põem febres de chorar. É pra essas duas mulheres o meu suor. Pra que uma me peça a opinião quanto à cor da parede da sala, e outra encomende um novo livro de charadas. É pra essas duas mulheres que domino todas as gradações da minha voz. Pra disfarçar a dor de ter que colocar limites numa, e pra aliviar a dor da massagem na rasgadura da outra. É por essas duas mulheres a minha fome e o meu enfado, os meus discursos prolixos e minha aquiescência. As minhas sacolas e a minha solidão. A minha roupa suja e o meu passado. É pra que no sábado eu tenha banco imobiliário com uma, e no domingo cinema com a outra. É pra ter o esguicho da mangueira e as contas a pagar. É pra ter teorias sobre o crescimento da goiabeira e planos de viagem a Portugal. É pra levar na catequese e trazer do supermercado. É pra aprender os nomes dos novos desenhos e pra não desatinar. É pra ser o herói e o amante. É pra ser o homem mais engraçado do mundo e ter a mão mais leve pra um afago de acordar. É pra me sentir, afinal, na inteireza de ser eu mesmo.

WDC

2 comentários:

Anônimo disse...

Meu irmão,

Valeu à pena esperar até hoje para ler o teu texto, pois foi ele que me instaurou uma alegria pungente, quase inexistente nas segundas de manhã. Foi lendo as tuas linhas que adquiri forças para encontrar caminhos. Para amansar minha fúria. Para esquecer desejos-meios.

Para que tudo fosse melhor, restava que eu te encontrasse com mais as duas que sempre te esperam e que um dia me disseram que eu poderia estar perto também.

Saudade irmão, saudade,

J.Mattos

Wagner Dias Caldeira disse...

Sabes como como essa casa te cabe, nos teus caminhos de irmão, compadre e tio. Sabes como essa casa te espera pra desistirmos dos compromissos externos e ficarmos apenas lendo poesia, literatura e adivinhações de pontinhos. Sabes o quanto é tua essa casa, indefinidamente.