domingo, 9 de maio de 2010

Mater

Mais disso não poderia ser. Um mundo dentro da bolsa. Minha cama placentária. Nasci em meio ao sujo, num mar de substâncias nada aprazíveis. E seus olhos foram os primeiros a encontrar minhas formas no meio daquilo tudo que saia dela. Somos uma biologia à parte. E como poucos organismos vinculados. Ela tem os olhos azuis e descende de povos distantes. Me fez dentro de si e eu sempre querendo escapar. Foi ela quem me mandou descer das árvores. Foi ela quem organizou meus primeiros anos de estudo. Sua lei era o eco escapado de um pai que viajava muitíssimo. Talvez não precisasse, mas sempre falava dele. E um dia, como naturalmente aconteceria, eu a fiz chorar. Fiz perder a cabeça. Ela me machucou. Nunca são simples os grandes amores, dizia a canção. E estamos aqui. Um de cada lado. Sem cordões umbilicais, porém unidos com a mesma grande força que tanto atrai como repele. Sou parte do que ela quis, e mais, parte do que sequer esperou e me dá um alento extremo saber que, mesmo sem pedir antecipadamente, poderei estar em seus braços com todos os frágeis segredos que me fazem tão solitário e irregular. Isso, por fim, é o melhor dos lugares. Meu útero a céu aberto, cujo cuidado pode se dar por desejo ou necessidade, mas sempre estará por lá. J.M.N.

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