segunda-feira, 17 de maio de 2010

Ah, esse olhar…

Algo nesse olhar me faz descer dos telhados. Me desata os nós de dentro. Me desabotoa alguns tormentos, não sem antes inventar outros. Não sei se é uma espera ou um pedido. Parece o braço de um náufrago saindo de um fundo famélico. Algo nesse olhar desanda minhas receitas. Entoa mantras. Tece tapetes que me desviam do que sou. Parece que não pisei em academias, ao ser interrogado pela sobrancelha direita que se levanta, pelo sorriso que brinca nas frestas do meu silêncio. Parece que algo maior contém a minha raiva quando a boca diz não e o olhar apressa-se num dulcíssimo sim. Algo nesse olhar me diz que quer ser metade de mim, na mesma medida que me despreza por inteiro. Algo nele me cobre e me deixa com frio. Me guia e me abandona. Me chove e me mata de calor. Algo nesse olhar já me apanhou, regou e cultivou, num chão que já não tenho.WDC

3 comentários:

Anônimo disse...

O texto é lindo e emocionante.

José Mattos disse...

Meu irmão,

Sabemos muito disso, não é mesmo?
Lindo texto.

J.Mattos

Anônimo disse...

Muitas vezes o olhar se torna enigmático, e para desvendá-lo, é preciso se saber se ainda nos pertencemos...