domingo, 16 de maio de 2010

Cogitações

"Eu sou como eu sou
vidente
e vivo tranqüilamente
todas as horas do fim."

Cogito - Torquato Neto

Incêndio, aço. Fumaça de caminhão para o resto do que não tive. A estrada a que pertenço, te deixa muito cansada. Vou voltar para Macondo e sua inexistência. Para dentro do meu livro de cabeceira que fala sobre a solidão. O que sempre tive. Ela me acompanha por toda parte. Vou nela buscando entender como me deixo chegar a estes fins tão barulhentos e ferozes. Com tantas pessoas boas deixadas pelo caminho. Talvez não seja bom. Talvez não tenha feito as perguntas corretas. É isso que digo. Do alto da torre a cidade baixa se completa. Um punhado de telhados afundados na tristeza poeirenta do caminho. Volto lá para escrever estas linhas que não saem em ambientes refrigerados e com bons guardanapos de seda indiana. Não. Volto a mim mesmo quando preciso escrever. Palavra esta que me integra às coisas menos sabidas de mim. E nisso vou fazendo parte da minha história. Acontecida como um Quixote que se levanta. Como um músico perdido na melodia interminável que tentara fazer para ela. Um bar escuro. Mulheres velhas a enxergar orgasmos onde jamais se pensou em tê-los. E perturbo meu sono de agora com um pouco disso. Revisitando as celas do monastério eu. Precisamente há mil duzentos e noventa e um dias ando apaixonado. Voltado para contar dos meus escapes e agora eu posso. Como nunca antes pude. Ser o que sou. O que se me destinou ser a engrenagem do seio familiar que me amputou a possibilidade de agir normal. Nem queria. Nem poderia. Com esses cardumes de risos e entregas apostando corrida em minhas madrugadas. Apenas para acordar mais cedo e viver do avesso para sentir. A primeira morreu de fome. A segunda de exagero. A terceira morreu de tédio por eu não ser perfeito. Ela me encontra por cima de tudo. Sem ordem cardinal. Sem ordenamento de territórios. Ela me encontra em uma matemática simples e até corriqueira, onde diferente do que meu pai queria, um mais um pode ser o quanto eu quiser. J.M.N.

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