“I will wear my heart upon my sleeve”
William Shakespeare – Othello, 1602
A porta abre. Sem campainhas. Sem pudores o vento da noite se aninha. Nasce o resumo de todas as paisagens de uma vida inteira de viagens aos confins do mundo. (Ela). Infestada de rua, com roupas pouco usuais. Apenas uma coisa a dizer. Quer ficar, ao que parece, porém sustenta um minuto de expressão neutra e desaba-lhe a dureza da espera com este gesto. Ele torcido. Curvo dentro de um plágio de si. Já não era ele mesmo, de nascimento. Tornara-se um cujo. João-Ninguém. Dentro do silêncio de sua chegada ela lhe tira as possibilidades de um existir concêntrico. As espirais nascidas de sua figura desencontrada, agora envolvem os carrosséis da infância, a tessitura das mantas de dormir e dos cueiros. Ele sem sê-lo, divaga. Um minuto maior que toda a história do mundo. Maior que a descrença em reparos. Ela então arqueja as sílabas e de dentro dela saem umas tais palavras. Move o que está fadado a mover o gênero dele, deixando o arfar pesado de incorporar-se. Move a estrutura belíssima que desenvolve espaços, que atraiçoa a anatomia masculina, ferindo de morte o auto-controle. Desmontado, descoberto, irreversível. Sacrificado no altar mais profano. Ele ensaia um canto de escravo. Ela reprova. E continua dentro do provar de ares que o rodeiam. Sua frase agora é completa. Ele finalmente escuta o que deve escutar. Recupera a metade de sua compostura. Toca os cabelos. Aponta o lugar em que eles irão destruir as coisas, sucumbir aos extremos. Finalmente um carinho. A mão dela em sua mão. E ela pára. E se deixa conduzir. Os passos demoram a acontecer, não por indecisão, mas por certeza, por necessidade de sentirem-se. Há sorrisos e diamantes. Eles entram. Estão perdidos. Como sempre faziam questão de estar. J.M.N.
Sugestão de trilha sonora…
2 comentários:
Nossa, fico pensando em quantas coisas ruins ficamos lendo por ai, na internet. E você com um espaço desses. Oferecendo literatura de excelente qualidade, além de dicas maravilhosas.
Virei fã do blog e, apesar de não ser muito acostumada a ler poesia ou prosa poética, ficquei muito tocada com as suas coisas.
Parabéns,
Camila - Belém
De tirar o fôlego. Lindo!
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