quinta-feira, 13 de maio de 2010

Ninguém ouviu o grito lá em casa

Acode que alguém morreu! Gritou-me lá de dentro aquela alma. Metade das coisas desapareceu diante desse grito. Meu corpo moveu-se com a agilidade de uns cinco anos perdidos da vida. Como quando se chega ao final do céu de dezembro esperando que o ano novo seja bem vindo e melhor. Morreu alguém que não era nosso. Ou que não era feito da mesma coisa que nos faz a todos – carne, ossos, temperatura. Gritaram alhures, um grito muito firme e consciente, como se a morte fosse um presente, muito mais que uma tragédia. Não sabia que gritava assim quando se via o fim de alguém. Morreu na inconclusão do ofício, como morre a junta massa de nós todos numa mesma era desta existência. Acode que agora eu entendo. Que aquele grito era meu para mim mesmo. Um desespero que se convoca quando o mundo inteiro não percebe nossa agonia. Acorda morte que teu prato está à mesa! A terça parte deste inquilino se volta às rimas e às idéias e intercede em si mesmo para que não chegue ao fim. E como se perguntasse a mim mesmo o que fazer, respondi sorrindo que só a vida, só a vida. E vi na parede, retrato e sonho. E vi nos olhos dela, meus próprios olhos. Olhei para casa e nada. A noite começava tranquilamente, como quando o desespero passa correndo e engana a voz e o peito, nadando contra a corrente e abrindo berros no vento. J.M.N.

Um comentário:

Anônimo disse...

Muito foda esse texto!

Bruno