sábado, 22 de maio de 2010

Morro Três Sentinelas

A razão da pergunta não morava nela mesma. Não estava nas cercanias da interrogação, muito menos nos motivos do fim. O cerne daquilo, o núcleo em si daquele questionamento começou num tempo em que nem ao menos existiam as suas palavras para cumprir seus saberes a respeito de si. Rezava um terço antes de dormir. Este fato sozinho era a denúncia do que temia. Apenas segredava suas vontades naqueles momentos escondidos em que as contas e as orações passavam entre seus dedos. Cada uma delas levava um milésimo de culpa por querer além de si. E começou a recuperar-se de tudo o que haviam lhe destinado em casa. E resistia a ele ferozmente, contando cada gota de negação amargamente. Não obstante, dizia estar, dizia ser... dizia, ademais, que estava pronta para a vida. O dia nascia e o vento estava coçando em sua pele. Subiam bem alto para olhar do outro lado, para um novo horizonte que lhes haviam anunciado, existia depois do morro. Lá em cima ela chamou a Virgem Mãe. E se assustou com tudo que se descortinava. Buscou abrigo dentro dos braços dele. Mas ele estava diante de seu maior desafio – buscar aquele risco além do olhar nascente. A fenda minúscula que separava o céu do terreno verde da planície além do morro. Enquanto um reconhecia que estava pronto para correr ao fim do mundo, o outro mal partira de si mesmo. E lá de cima, arcanjos e outros seres míticos ouviram os seus pedidos calados. Escreveram seus nomes em cada uma das três árvores dali e voltaram de onde partiram completamente mudados por dentro. J.M.N.

Um comentário:

Anônimo disse...

MUITO BOM ESSE!

LUA