terça-feira, 25 de maio de 2010

Incompletude

Eu não sou daqui. Nem sou de canto algum. Sou das memórias que me quiserem. Das alegres e das aflitas. Das libertárias e das vingativas. Preferencialmente, as que transitam frouxas depois de uma morte ou um adeus prolongado em anos de desistir devagar. A tarde começa em mim na primeira hora do dia. Vou acordando assim, pela metade, com vontade de acabar antes do seu fim. Falta um pouco de sal na comida. Faltam as formigas traiçoeiras e ela em toalhas de banho espantando os bichos. Meu animal dormido festejando o recuperar de sua vida quando ela tirava a roupa. Minha pele está riscada de símbolos e anagramas com o nome dela. Está flertando com esquecimentos antes que sobre apenas um traço líquido meu diante da realidade dos dias sem ela. Eu não pertenço a nada. Nem a mim. Porém, quando me lembro de algo realmente suave, lembro dela. Ali deitada em conformidade com o que jamais seria – um corpo apenas. Durmo sempre com esta beira de precipício por perto, a história que embala meu sono em silêncio. Ela dormiu antes de mim. É bonito vê-la acalmar. Ir devagarinho para as auroras sonolentas de seus mistérios. Havia esquecido como são belas as mulheres dormindo. Ninguém nunca mais me fez pensar dessa maneira. J.M.N.

Um comentário:

Anônimo disse...

Ai, nossa que feminino e belo...
Amo tuas palavras...

Marcela