quinta-feira, 13 de maio de 2010

As palavras que a reclamam

Olha bem, meu bem, nossa canção de amor jamais vai acabar. Vê se enxerga de uma vez por todas que eu estou aqui. E como nunca estou arqueando meus sopros de vida porque sei que virás. Porque sabes que sou eu no silêncio das ligações. Por que sei que visitas este meu reino de letras e mortes tão juntinhas. Tão próxima a inquietação que me dá quando penso assim. E dessa janela que abriga meu sussurro subo aos altos e vou indo. Vou indo como os flocos de neve que aqui nunca caem. São acordes teus olhos lembrados. Nossa música se alonga. Fico aqui, dentro de mim, pairando pela cidade despedida como fazia já em anos poucos de minha vida. E tem o cheiro da tua pele saída do banho a madrugada. E tem razão para o dia meu pensamento. Quando minha madrinha descobriu que tinha ímpetos de fome avoada foi um desespero. Mais um perdido nas santidades de carmim. Contou para ela que me instruía e ensinava o amor em estado de encontro – a fundadora de humanidades. Com cada um de seus olhos contei que virias até minha vida. E roubei as esperanças que ela guardava para ser feliz, porque feliz era queria que eu fosse. E sou assim porque sei contar histórias. E o faço tão bem que elas não têm jeito de serem apenas minhas. As pessoas se aproximam do que eu conto. E nas cidades onde eu estou elas passeiam. E passeiam pelas lembranças daquele menino. Ainda o vejo nos tremores de contar a ela que se sentia só. Dentro do carro, uma noite, já homem o menino desandou num choro. Queria encontrar a franqueza do abraço da mãe dela em sua própria mãe. E fazia por fazer as promessas. Até aquele dia que sentiu o acolhimento da mãe de outra pessoa, acolher o que faltava de ser acolhido dentro dele. E passou a prometer apenas o que podia. E prometeu-se eternamente e tão fundo que o para sempre virou apenas um segundo. E continuou a falar essa eternidade, até que o tempo se engraçou de suas palavras e as deixou fazer caminhos em seus espirais. Eu ainda lembro o corpo que me fez homem. Tinha três entalhes lindíssimos em sua pele. Três detalhes que fariam seu ventre ser a casa única da próxima cria. Eu verdejei demais essas palavras. E as escondi de mim tão escondidas que elas perderam a força do que dizer. Escrevem-se quase sozinhas e dizem o que bem querem. E elas me dizem agora que querem ser dela novamente. Dizer o que ela significa. E o que ela significa para mim está bem dentro destas palavras de agora. Que começaram ontem. Por causa do que tinha para dizer e não disse. J.M.N.

Um comentário:

Anônimo disse...

Teu texto me fez lembrar a música...

Veja bem, meu bem

Veja bem, meu bem
Sinto te informar que arranjei alguém
pra me confortar.
Este alguém está quando você sai
E eu só posso crer, pois sem ter você
nestes braços tais.

Veja bem, amor.
Onde está você?
Somos no papel, mas não no viver.
Viajar sem mim, me deixar assim.
Tive que arranjar alguém pra passar os dias ruins.

Enquanto isso, navegando vou sem paz.
Sem ter um porto, quase morto, sem um cais.

E eu nunca vou te esquecer amor,
Mas a solidão deixa o coração neste leva e traz.

Veja bem além destes fatos vis.
Saiba, traições são bem mais sutis.
Se eu te troquei não foi por maldade.
Amor, veja bem, arranjei alguém
chamado "Saudade'.