domingo, 27 de dezembro de 2009

No verde do mar dos olhos dela

No verde do mar dos olhos dela encontrei novamente os meus abismos. E me soltei no tempo, nas profundezas do que me define amiúde. É a loucura de estar sempre a procurar as fontes, as verdades, os adjetivos para formular versos e espirais. Um dia apenas, apenas o estar por perto. O casual encontro de amigos e aquela presença transpondo-se em deslumbre e distância, como fosse tão de longe a beleza que emanava dela. O suficiente para engendrar planícies em minhas linhas. O soar desconexo das letras aninhando-se para saudá-la, sabendo não ser comum aquela cor no olhar de alguém. Nunca soube que eu estivera no mesmo ambiente, cuidando que estava de tantas fomes. E o melhor de tudo, foi que pude visitá-la nesta distância aceitável, porém difícil, de não conhecê-la. Enquanto todos esperavam saciar-se, ela desfilava intocável por entre as mesas, dando bons dias, aceitando o soldo do trabalho, conversando com amigos, dando ordens graciosamente. Chegou sua companhia, uns dizeres animados, nenhum olhar percorreu meu espaço. Pude continuar na ausência. A primeira dessas linhas surgiu ali mesmo, paralisado que eu estava no verde daquele seu mar. Seu telefone toca, um puxar no canto da boca, a voz reduz, parecia alegre. E que agonia de querer saber quem lhe arrancava os sorrisos. Sugeri que ela fosse um de nossos retratos e supus a timidez da luz ao encontrar os olhos dela. Talvez fugisse – luz envergonhada. Talvez se tornasse um pequeno eclipse o flash da máquina. Seu retrato ficaria bem em minha parede, assim como sua existência fica bem em qualquer lugar. Ainda me encontro no verde de seus olhos enquanto escrevo. Ainda sinto o cheiro de sua existência em todo lugar. E isso, simplesmente, faz os dias serem mais acessíveis, mais ricos e suaves. Quando sinto falta de águas claras e de um susto que me hipnotize, penso naqueles olhos com suas imensas ondas a me molhar, trazendo-me o sal para a pele, o vento para afastar tristezas, a beleza, a distância e a suavidade de quem existe para encantar. J.M.N

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