quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Caminho anoitecido

"Quando partiu olhou o porto e atestou
delícias. Estava vivo. Estava indo.
A partida lhe deu o caminho.
Não se sentia mais um vencido.
E este foi apenas o começo."

O Oráculo do Grão - Texto XLVIII

Assustado e esquivo. Um ruminante dos poderes do corpo e dos sentidos. Caminhante das ruas onde acabam os caminhos, onde se põem placas que nada indicam, nada alertam. Descobriu sozinho que passar por sobre as pontes é um endividamento eterno. O que mais impressionou seus olhos foi a gota explodida na folha caída. Era afeito ao minúsculo, ao firmamento do ínfimo. Sentia tudo como um tocar de peles ou despertar de cravos. Dobrava esquinas de olhos fechados e confiava. Tudo estava tão dentro dele que não precisa carregar bagagem e se perguntava sobre a necessidade das lembranças. Dormiu em casas de estranhos. Cuidava de sempre arrumar a cama para que recebessem outros necessitados. Sua cor preferida era sangue. Ouvia o ruído celular gastando suas energias. Capturava penínsulas na boca dos outros. Confundiu beijos com andorinhas e fez versos para os circos e seus trapézios. Discute a liberdade no cume dos abismos. Aberto e acontecido como o passado. Deixa apenas o sabor do vento aliciar seu tato e o retrato dela, no balcão do hotel, consumir toda a distância, todo o ermo do caminho anoitecido. J.M.N

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