sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Estranho eu

Quem é ele que parece não me dizer respeito? Que anda há meses espreitando minhas fraquezas, minhas arritmias? Não sei se cabe perguntar. Não sei se o que ele traz é algo já escolhido pelos meus desenhos e resenhas. Algo tão íntimo que já se sustenta sozinho e procura uma porta por onde passar, por onde se dar ao mundo. Quem é ele que freqüenta as mesmas razões suicidas que eu, que se aflige da mesma ferida maneira quando confrontado pelas impossibilidades do querer? De onde vem essa insistência hercúlea, essa dinâmica atormentada e atraente? Ontem diante da insônia confessei e se ele quiser saber, direi que já não era sem tempo. Já me havia chegado ao cúmulo esse incômodo, esses lampejos. Não sei quem é. Não sei se devia falar e ousar esses horizontes na sua presença. Quando voltei do exílio auto infligido e dormente, vi que me era proibido o salto sem aparatos de segurança – bastava de quedas. Não pude ir a passos largos atrás daquilo que deixei. E o que mais me supera agora, o que mais me constrange é que pressentia sua presença e estranheza. Quando voltei a mim, depois de tanto me abandonar, foi ele quem primeiro encontrei. Um ser montando guarda, esperando para dar um recado, para esclarecer as cartas deixadas, os dias sem trégua deste circo sem futuro, daquele amor apoteótico e estrangeiro. Foi ele quem abriu as portas de minha casa. Foi ele, ao fim de tudo, quem aparou minha primeira lágrima de reencontro. J.M.N

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