quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Entre o sono e a aurora

Chegou em casa e se sentiu vazia. Depois do beijo, depois da noite, apenas um corpo sem habitante. Fazia frio a despeito dos quarenta graus da cidade. Liga o som. O CD ainda estava lá. A música dizia: In my imagination/You're waiting lying on your side/With your hands between your thighs. Ela pensa nele, de olhos fechados deseja estar ao seu lado. A música avança. Depois dos solos, a melodia volta uma oitava acima. É hora de se entregar. O choro vem como uma revolta. Ela pensa em tudo o que passou. Pensa que jamais irá olhar para os seus olhos, nem que seja para dizer os piores desaforos. O frio aumenta. Ela canta junto o refrão. Olha pela janela e pensa novamente que não se sente confortável em seu próprio apartamento, como disse a ele, meses antes. Queria fugir dali. Acende um cigarro e lembra que ele havia pedido que parasse. Ela apaga, mas não por causa dele, não para satisfazê-lo em silêncio, apenas para aviltá-lo, para saber que quem toma as decisões agora é ela. Vai até a janela e começa a contar os carros. Sem razão de ser segue um deles e lê a placa. Reconhece-a. Berra a plenos pulmões um impropério. Era ele. Passava devagar. Maldita hora que foi à janela, pensou. Repetiu a música mais duas ou três vezes e voltou à janela, desta vez estaria pronta se ele passasse. Sabia que ele passaria. Queria que passasse. Mas ele não veio e o dia finalmente desabrochou. Ela começou a adormecer com um cigarro apagado em seu peito, pensando que ele mais cedo ou mais tarde passaria novamente. Começou a imaginar o que faria e quando finalmente a resposta ia se formular ela dormiu, sem contar a si mesma o que faria. J.M.N

Um comentário:

Wagner Dias Caldeira disse...

A música é boa. E a banda que toca a música é genial. A melhor de todas.