segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Redimir-se

"Perdão, perdão àqueles que sangram,
remota carne invejavelmente desperta.
Abre a porta dos mais que anos,
e relembra que não somos mais,
que existimos apenas no chão dos versos"

O Oráculo do Grão - texto X

Há de existir um dia sem a confirmação das desventuras que inventamos. Sem a lembrança esquisita daqueles dias pertencidos. E como o cuidado de mãos feitas para o ofício de cuidar, o sono acontecerá a despeito do medo de que se apaguem as memórias, que a vigília seja a única forma de proteger nosso castelo de areia, pois neste dia em que nada haverá de doer mais do que as dores dos anos, estará garantido na memória celular de nós dois, o metabolismo anunciado do que fomos e fizemos. E talvez sejam dignos os enfeites pensados para o aniversário do encontro. Talvez sejam estúpidas as distâncias polares. Quem sabe serão felizes os afagos nos outros e toda a história vivida será sintetizada num raio fulminante de poder super-humano, que dissolverá o aço na mesma medida em que unirá as coisas mais suaves que possamos inventar. Há de existir um dia sem a reprovação interna das euforias, sem o espanto das orações ofensivas ou o remoto desespero de perdermos o que sabíamos nosso, mas, sem jeito ou ciência, cuidamos para não ser de mais ninguém. J.M.N

3 comentários:

Unknown disse...

Moço, não sabes com que alegria li essas palavras, estavas perdido em meu ciberspaço. Bom te ver aqui e ver que ainda dizes muito. Saudades de ti. Beijo
Vanessinha

Paula Menezes disse...

ZÉ, muito linda sua expressão escrita....em acrescimo a esse sentimento de redimir-se sugiro uma letra e melodia linda de Caetano "Oração ao Tempo". Particularmente é a musica que me cala. Paula.

José Mattos disse...

Fale Vanessita,

Saudades também... Tava um dia desses lembrando das aventuras de Sampa com o Damaso. Vila Madalena, Belle and Sebastian. Sensacional.

Não nos percamos mais.

Beijos grandes,

J.Mattos