quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Cinco razões para o perdão (V)

Era perdoável traí-la. Era um costume de antanho. Sua entrega em potes volumosos era prioridade apenas para ela. Fechava as pernas em torno dele, como um colar, adereço de corpo inteiro e bom gosto de se ir para o inferno. Mas ele a resguardava internamente com a mesma anomia obsequiosa de outros instantes. Aborreceu-se demais para um dia ser sozinha. Convicta que estava em parecer maior e mais forte, abotoou a camisa de forma errada. Sua roupa lhe caia bem de qualquer jeito. Mas naquele momento, ele teve a impressão de que alguma coisa ia mal do cerne de sua alma. A primeira pergunta foi ofensiva. A segunda devastadora. A terceira uma imprópria guerrilha. Colou tudo ao redor do pranto e saiu comovida com a certeza de que ele nunca encontraria alguém como ela. O sorriso dela, nascido no instante em que lhe deu as costas não foi além de dois ou três momentos de felicidade. E nestas memórias, lá estava aquele ser. Um homem amado em cujo rosto de desamparo via-se o amor voltar à raiz, atrasado em sentir, cumprindo a pena de causar tantos danos. Um pedaço do corpo adquirido no abraço, a metade da certeza de que fora feliz. J.M.N

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