quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Além das despedidas

A sombra dura que me encobre é a derradeira. Passageira como a alegria que desposa minha solidão. Num ato nulo de entrega onipresente, descobri que havia um luto decorrente da videira no jardim. Um esgotar-se natural como nossa história. Como sua vida.

Logo que viu seu corpo morto algo estranho lhe aconteceu. Uma vontade de antes mesmo da existência superou a calma daqueles passos pesarosos e violou a tranqüilidade sofredora do local. Em seguida instalou-se o choro. Bem depois espancava a carne hibernada no caixão e desesperava em grunhidos de animal, o senhor não tinha o direito! Viva de novo, desgraçado!

A próxima lembrança que teve foi o teto branco. Um ventilador rodando tão cansado que os intervalos entre suas hélices reproduziam os avatares da última descida celeste. A terra prometida, sepultando-o, definitiva. Um filme de roteiro amador onde a única coisa que se entendia era que a história contada durante aqueles tão longos anos, não tinha começo ou fim.

No marasmo de sua condição enferma, seguiu mais uns minutos o rodopio do vento e perguntou no tom mais baixo que encontrou, afinal, onde está meu corpo quando preciso dele? Era importante sair dali e voltar à vida. J.M.N

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