Erwin Blumenfeld - Véu Molhado, 1937
Vivia nalgum canto. Entrecortada. Arrumando os vasos com plantas ao acaso. Seu armário respirava pouco. Tinha história seu cheiro guardado e a nula cor de seu vestido de primavera. Andava doce, como se aquela vida, trabalho, horror, não fosse dela. Muitas vezes se deixava abandonada às vontades de seus gestos e supunha pátios onde as paredes a cercavam. E quando a potência de seu corpo multiplicava, calava os músculos e seus ecos férteis com esforço abnegado. A ira interna era sua maior qualidade. Constava no livro de endereços e anteriormente viveu num conjunto de apartamentos. Houve um tempo, existia a dois, ancorada em um gelo estaladiço. Pouco soube das moções de adeus e apenas naquela tarde - quando num presságio cumprimentou o olhar do outro - conheceu certas propriedades de sua alma. E procurou em cada canto do seu ser, notícia que fosse sobre aquela espécie de encanto. O silêncio anunciou-lhe novidade. Suas noites, enfim, seriam mais do que descanso. J.M.N
2 comentários:
Indescritivelmente maravilhoso!Como dizia Da Vinci " As mais lindas palavras de amor são ditas no silêncio de um olhar".E mesmo quando os encantos ficam em silêncios...
Hellen
"[...] que encantos silenciam? Não sendo notados, não são encantos" (M.Rosenthal)
Lembrei disso ao ler teu comentário.
Abs,
J.Mattos
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