segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Uma onda azul

Tudo na mesma. O mundo dando suas voltas, homens caídos numa guerra qualquer e esse gosto insolúvel de passado entre meus dentes. A carne passa sem se fazer alimento. Ao cadáver minhas desculpas. Ando assim. Usufruído demais, pensando em missões de resgate, porém sem razão para isso. Ninguém merece outra morte em seu nome. E dentro do gosto, ainda flambado a passado, uma foto que tem a gente, sentados naquela murada, anos-luz desse meu ponto de agora. Recorro à tua misericórdia para dizer que cansei. Faz escuro, mas eu canto. Era o que dizia o velho poema, dos velhos defensores das velhíssimas utopias de antanho. A quem cantar agora que tudo não passa de uma vizinhança que não existe? A rede, a compra, nossa vida invertida de sentido e fazendo-nos correr para acabar mais rápido. Sabe? Existe ainda aquela letra que não publiquei, onde brincava com nossos nomes e atava-os a um herdeiro de belos cabelos compostos pela forma e pela cor de nossos próprios cabelos. Seria nosso filho místico. Nosso ponto de salvação, talvez um porto seguro. E quando penso nele e em nós cumpridos e velhos de tanto amar, vejo que nesse sonho apenas nós envelhecemos, apenas nós seguimos a vida do jeito que ela é. Nosso sonho parido tem todo direito de não estar mais presente entre nós. Porque nós morreremos em alguns anos e o filho celeste que nunca chegou ficará naquele quadro de sonho, num frame de saudade, vagando feito uma energia boa a ser capturada por quem durar mais do que nós. J.M.N.

Trilha sonora possível…

2 comentários:

Anônimo disse...

Melancolia pura... Parece coisa de tarde quente nos idos da adolescência sei lá. Muito lindo.

Flávia

Anônimo disse...

Belíssimo texto.

Núbia