quarta-feira, 21 de setembro de 2011

deuses e afins

Seu ardil durou pouco. Apenas o suficiente para que ele entendesse. Aliás, muito menos que o tempo da percepção dele em relação à sua atitude. Muito antes de ela o ferir, ele já sabia as razões. Era parte delas. Mas não era único. Entre semelhanças, desesperos e muita entrega, aqueles dois tinham muito mais em comum do que poderiam supor. Nenhum dos dois teve um lugar exclusivo. Sempre aviltados, por irmãos mais velhos ou moralismos da vizinha chata. Assomava-lhes a vontade mesma de rasgar carnes, de atentar contra a vida. Pudores nenhuns em dizer vertigens à beira do pranto e comer colmeias vivas. Os dois eram prenhes de efeitos colaterais. Serviam-se. Até que alguém desistiu. Não se sabe bem essa parte da história. Sabe-se apenas de uma estatua esculpida, dia e noite, por três anos e deixada na praça da cidade onde se conheceram. Bem em cima do seio esquerdo da mulher de pedra um aviso em letras finíssimas feitas com cunha de lâmina bem afiada, indicava, na crosta dura do mineral transformado: paraíso dos perdidos. J.M.N.

Um comentário:

Anônimo disse...

Muito porrada esse. De uma verdade estonteante.

Larissa