quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Opala

Era quando aquilo que seus olhos eram capazes de fazer acontecia, que minha insistência num emprego desgraçado como aquele se justificava. Vinha, a bem dizer, decorada de luz. E tudo quanto tocava ou fazia trinava espectros finíssimos de luz colorida. Uma festa aqueles olhos me atenuando o peso do esforço e do calor abominável de meu pequeno escritório.

E o conjunto era perfeito. Avisava aos fracos que não viessem que não perguntassem besteiras ou pornografias. Dizia silente que não se acostumassem àquela suavidade vespertina que acobertava seus erros depois que a visita ao chefe terminava. Era vetada aos nossos gostos e dedos, às nossas verdades perversas ou convites de jantar. E assim permaneceu enquanto durou o brilho, enquanto outras portas não abriram. Do mesmo jeito que chegou se foi.

Acontece que agora as tardes parecem bem mais longas que antes e, não sei, mas tenho muitas vezes a impressão de escutar suspiros pelos corredores e vejo tristeza na luz que entra pela janela da frente, logo depois de ter descoberto pássaros sobre as árvores lá de fora. J.M.N.

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